Atualmente vivemos demasiado presos à desculpa de que “não temos tempo” e, quando nos apercebemos, passou mais um dia, mais uma semana, mais um mês e mais um ano. A nossa vida parece focar-se em ações que nos permitem “ter mais” e, por isso, trabalhamos mais, competimos mais, ambicionamos mais, para podermos ganhar mais, comprar mais… E quando esta autoexigência assume uma proporção em que o “ter mais” pode significar perder? Perder tempo com a nossa família e amigos, perder momentos de lazer, perder o sono, perder qualidade de vida, perder motivação e rendimento no local de trabalho?
É fundamental termos a capacidade de ajustar a nossa realidade e as nossas exigências, encontrando um equilíbrio que fomente o nosso crescimento pessoal e profissional e, consequentemente, a nossa saúde mental. E é sobre a saúde mental que este artigo se debruça.
A Organização Mundial de Saúde define saúde mental como um estado de bem-estar que permite ao indivíduo realizar o seu próprio potencial, dando-lhe capacidade para lidar com as pressões normais da vida, para poder trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a sua comunidade.
Sabia que 1 em cada 5 portugueses sofre de uma perturbação mental e que Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças psiquiátricas?
O tema da saúde mental não é recente e esta preocupação é efetiva. Contudo, a verdade é que a pandemia funcionou como um acelerador – falar apenas em bem-estar físico como sinónimo de “ter saúde” é demasiado redutor. Cada vez mais existe a consciência de que sem saúde mental não existe saúde. Neste seguimento, o impacto que a COVID 19 teve ao nível do bem-estar psicológico das pessoas/trabalhadores promoveu nas chefias e líderes uma maior sensibilização para este tema.
Em muitas organizações, a saúde mental no trabalho continua a ser um assunto tabu, o que leva a que muitos colaboradores não falem sobre os seus problemas, porque receiam ser prejudicados ou que lhes sejam atribuídos rótulos. Nesta sequência, torna-se impreterível que as chefias assumam um papel facilitador, que criem e promovam momentos para que os colaboradores falem, sem medo, sobre assuntos do foro laboral, que possam estar a gerar algum mal-estar e, consequentemente, prejudiquem a sua saúde mental.
Parece importante sublinhar que nas empresas onde existem constantes conflitos, ou as pessoas não se sentem ouvidas nem valorizadas, é maior o risco de perturbações mentais como o burnout (estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional), ansiedade ou depressão. Neste seguimento, destacamos que, de acordo com o relatório da Ordem dos Psicólogos Portugueses, estima-se que em Portugal, devido à falta de saúde psicológica, os trabalhadores registem um absentismo de 6.2 dias por ano e o presentismo – ato de comparecer fisicamente no local de trabalho, apesar de não reunir as condições de saúde necessárias ao normal desempenho da atividade laboral – será de 12.4 dias.
O bem-estar mental e emocional tem influência no modo como nos percecionamos, como comunicamos, como nos relacionamos com os outros, como vivemos e sentimos os acontecimentos do dia-a-dia, o que virá a ter um impacto direto na forma como trabalhamos, na nossa motivação e, consequentemente, nos resultados e produtividade.
Neste sentido, os especialistas defendem que as organizações que promovem a cooperação, a comunicação, a escuta ativa, preocupando-se com o bem-estar dos seus colaboradores, são organizações que fomentam um bom ambiente de trabalho, o que inevitavelmente favorecerá uma boa saúde mental.