Um 2022 forte que dá as boas-vindas a 2023

Se tivéssemos de eleger uma palavra para classificar o mercado imobiliário e da construção, nos últimos 3 anos, escolheríamos, sem hesitar, a palavra resiliência e, é esta a palavra, que nos parece que vai continuar a marcar o próximo ano de 2023.

Pese embora se tenha assistido, no último ano, no mercado imobiliário nacional, a uma retoma muito consistente e acelerada, visível e transversal a todos os segmentos, é expectável que a pressão provocada pelos principais condicionantes macroeconómicos, inflação e taxas de juro, agravadas pelo conflito na Ucrânia, nos obrigue a um esforço extra em 2023.

 

Industrial e logístico

 

A procura permanente e falta de oferta coloca Portugal entre os mercados mais apetecíveis para investir em logística, juntamente com países como a França, Alemanha, Espanha e Itália.

Portugal tem-se revelado um ponto de partida para servir os mercados ibérico e europeu e, consequentemente, um destino cada vez mais apelativo para os operadores logísticos transfronteiriços.

A pandemia, num primeiro momento e, mais recentemente, a invasão da Ucrânia levaram a uma reorganização a nível geoestratégico que resultaram em grandes impactos no setor. Os mais recentes eventos colocaram em causa todo o movimento de globalização, uma vez que se entendeu que as cadeias de produção e distribuição não poderiam estar dependentes de uma decisão política que colocasse em causa a capacidade das empresas operarem, bem como a sua própria continuidade. Este processo de “desglobalização” resultou, por exemplo, numa deslocalização das unidades de produção para a Europa ou na decisão das empresas em aumentarem os seus níveis de stock, duas situações com um impacto direto na forte dinâmica registada no setor Industrial & Logística, nestes últimos dois anos.

Escritórios

 

Depois de ter resistido à pandemia e ao teletrabalho, com os modelos híbridos a assumirem um papel de relevância, o mercado de escritórios mostrou-se muito forte e resiliente no ano 2022 e promete seguir robusto em 2023.

Após dois anos em que o modelo de escritórios tradicional foi colocado em causa, o mercado de Lisboa registou um resultado histórico, com aproximadamente 260.000 m2 colocados, num total de 186 operações, estabelecendo assim, um ano recorde. Já no Porto, superaram-se os níveis pré-pandemia, tendo, até ao final de novembro de 2022, um volume de absorção de cerca de 53.000 m2, resultante da conclusão de 61 negócios. Esta dinâmica reforça assim, a ideia de que Portugal é uma das mais apetecíveis localizações europeias para implementação de novas empresas.

Retalho

 

Na nossa opinião, o mercado imobiliário do retalho, talvez a par com o setor hoteleiro, ganhou o prémio do mercado mais resiliente do ano, depois de ter mostrado ser capaz de se adaptar às novas necessidades dos consumidores. Após uma perda significativa de “terreno”, na pandemia, para o comércio eletrónico, eis que 2022 nos presenteou com uma forte recuperação do comércio de rua, tendo a procura estado ao nível do período pré-pandemia. Já nos retail parks, assistimos a um sucesso enorme destes espaços, que têm início no período pandémico e que faz com que hoje, estes projetos, gozem de um estatuto privilegiado junto dos operadores e investidores. O retalho alimentar, restauração e insígnias com preços mais baixos, foram os mais ativos e dinâmicos do mercado e é expectável que venham a ser as figuras do próximo ano.

2023

Residencial

 

O mercado residencial, mais familiar para a maioria, tem assistido a uma valorização expressiva nos últimos anos, resultado, não só da inflação, mas também da escassez de oferta. Nunca, se produziu tão pouca habitação em Portugal e os números dão que pensar. Em 2002 foram concluídos 125.000 fogos, em 2021, apenas 20.000, sendo expetável que os números de 2022 sejam ainda inferiores. Assim, e devido às circunstâncias geopolíticas que atravessamos, há um grande receio relacionado com a inflação e o aumento das taxas de juro, o que levará, certamente, a que o 2023 seja marcado pela incerteza, alguns receios e, consequente, pela desaceleração do mercado imobiliário. Apesar deste cenário, não é expectável um impacto direto e forte nos preços ou uma correção acentuada.

Pedir crédito vai ser mais difícil o que trará desafios e oportunidades, criatividade e soluções, pelo que, a dinamização do mercado do build to rent, juntamente com o mercado dos “alternativos (Coliving, Cohousing, Senior Living, Student Housing), venham a afirmar-se. Estas soluções habitacionais visam fundir o espaço físico com o serviço, oferecer uma experiência diferente, mais versátil, indo ao encontro das necessidades de grande parte da população jovem, estando alinhadas com o estilo de vida das novas gerações. Estas novas formas de trabalhar e habitar, permitiram colocar no mercado mais oferta residencial a menor custo, logo, mais adequadas às necessidades dos dias de hoje.

2023

 

Nos grandes desafios para 2023, e sendo algo que a todos diz respeito, não poderíamos deixar de destacar as vertentes da responsabilidade social e da sustentabilidade, que deverão continuar a ter um papel relevante nos próximos anos e a representar uma das principais preocupações dos players, não apenas no mercado imobiliário, mas em todo o tecido empresarial e em toda a economia.

Em jeito de conclusão, não temos dúvidas em afirmar que será um ano desafiante, um período de transição e de tempos mais exigentes, mas são, também, estes momentos, aqueles onde, por norma, as pessoas e as empresas se reinventam.

 

 

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