Placemaking – inclusão da comunidade na construção de espaços públicos vibrantes

Atualmente existe uma maior consciencialização das pessoas para a importância dos espaços e para o impacto que os mesmos têm no dia-a-dia e no bem-estar dos seus utilizadores.

 

Já ouviu falar sobre o Placemaking?

 

O Placemaking vai muito além da requalificação de espaços públicos e é considerado um processo que visa transformar e melhorar um determinado lugar de modo a beneficiar a comunidade local e, consequentemente, a cidade. É neste seguimento que o artigo de hoje, explora este conceito para que o setor imobiliário, nomeadamente promotores e construtores, tomem consciência da sua importância e aplicabilidade nos seus projetos, de forma a incluir valores como a conexão, a sustentabilidade e a inclusão da comunidade de modo genuíno.

 

Esta abordagem procura, assim, dar vida aos espaços públicos e torná-los locais inspiracionais e de conexão entre pessoas, ideias e aspirações, pressupondo a participação da comunidade. É neste envolvimento que se criam espaços públicos de qualidade que contribuem para a saúde, felicidade e bem-estar funcionando, em muitos casos, como uma espécie de rede de apoio social que ajuda a incutir um sentimento de pertença a um grupo. Este processo pode ocorrer através da implementação de pequenos projetos/atividades ou através de projetos/atividades de grande escala.

 

(Fonte: pps.org)

 

A ideia que hoje chamamos de Placemaking, começou a ser desenvolvida por volta do 1960, por Jane Jacobs, que criticava o crescimento urbano “sem alma” e incentiva os cidadãos a tomarem posse das ruas através de ideias inovadoras de forma a criar movimento e dinamismo durante todo o dia, promovendo a vida coletiva. Neste seguimento, William H. Whyte, por volta dos anos 70, destacou determinados elementos-chave que promovem uma vida social estimulante nos espaços públicos entre os quais, abordou a importância de lugares para sentar, a existência de comida e a relação dos espaços com a rua.

 

Foram estes autores, pioneiros do urbanismo, que inspiraram a criação da organização sem fins lucrativos Project for Public Spaces (PPS), em 1975, e que em 1990 falam pela primeira vez do conceito Placemaking.

Segundo esta organização, é fundamental perceber e ouvir quem utiliza, brinca, vive, trabalha num espaço, criando assim uma visão comum do local, ou seja, é necessário a quem projeta assumir duas posições: o olhar de fora e o deixar-se envolver.

Através de vários estudos, o PPS desenvolveu um diagrama que ajuda a qualificar um determinado espaço público tendo por base os seguintes princípios: acessibilidade e conexão; conforto e imagem; usos e atividades; sociabilidade.

 

(Fonte: pps.org)

 

 

Para melhor compreender este conceito, deixamos a história de Lily Yeh, uma artista que nasceu em Taiwan, China, e mudou-se para os EUA para estudar na Escola de Belas Artes, tornando-se professora de arte na Escola de Belas Artes da Filadélfia.

Foi em 1986, enquanto guia turística para artistas chineses, que Lily levou um grupo ao estúdio do dançarino Arthur Hall, no norte da Filadélfia, que pediu ajuda para revitalizar uma área particularmente degradada do bairro. Chocada com o estado das ruas, Lily não sabia bem por onde começar, mas sabia que algo deveria ser feito para dar uma nova vida àquele local. Então ela começou a recolher o lixo, o que chamou a atenção de crianças residentes que queriam saber, lembra ela, o que “aquela chinesa maluca” estava a planear. De seguida, foram os próprios pais a observar a artista que percebeu que ali tinha alguns colaboradores para o que viria a tornar-se o projeto de arte mais importante de sua vida. Em pouco tempo todo o bairro envolveu-se na limpeza da área, pintura de murais e criação de um “parque de arte” que se tornou o orgulho da comunidade.

 

Placemaking
(Fonte: pps.org)

 

Utilizando os princípios do Placemaking, Lily Yeh lançou um projeto de longo alcance que deu ao bairro um novo propósito. A partir desse projeto, Yeh fundou a The Village of Arts and Humanities, que atende anualmente mais de 10.000 jovens e famílias carenciadas no norte de Filadélfia. Três décadas depois, o pequeno parque de artes fundado por Lily Yeh e pela comunidade daquele bairro tornou-se um símbolo de renovação, englobando mais de 120 terrenos, anteriormente abandonados, com murais, jardins, mosaicos, parques, hortas, parques infantis, espaços para espetáculos, quadras de basquete, estúdios de arte e até mesmo viveiro de plantas. Seis prédios foram reabilitados e transformados em locais de trabalho, com os residentes a serem formados em áreas ligadas à construção civil. Foi aberta uma creche e as casas abandonadas foram renovadas.

 

Para finalizar vale a pena destacar que à luz do Placemaking as cidades precisam de locais que lhes deem identidade e beleza e que ajudem a atrair novos residentes, negócios e investimentos. Praças, parques, museus, mercados, jardins com bancos confortáveis, hortas comunitárias, ciclovias, podem ser algumas opções. Importa observar, ouvir e fazer perguntas às pessoas que vivem, trabalham e se divertem num determinado local para que se possam entender as suas necessidades e aspirações para esse espaço e para sua comunidade como um todo, fortalecendo a conexão entre as pessoas e os lugares que compartilham.

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