Paulo Castro, CEO do Castro Group, em entrevista

Em conversa com Paulo Castro, CEO do Castro Group, ficámos a saber mais sobre qual o impacto que o FUSE VALLEY terá em projetos futuros e compreendemos melhor alguns temas que marcam o panorama do investimento imobiliário, atualmente, como: de que forma a pandemia está a influenciar a construção, a importância da sustentabilidade para o setor e o modo como as cidades estão a ser envolvidas pelos novos projetos.

 

“Inovação, sustentabilidade e bem-estar” são as principais características do FUSE VALLEY, o futuro centro de inovação tecnológica que irá ser desenvolvido em Matosinhos. Ao todo, o espaço terá 140 mil metros quadrados, dos quais 60 mil serão ocupados pela FARFETCH. O restante espaço ficará sob a alçada do Castro Group e será ocupado por edifícios de escritórios e serviços, um hotel com 75 quatros, 42 apartamentos, um anfiteatro ao ar livre, entre outras valências.

 

A pandemia e os seus condicionamentos impuseram algumas alterações, este encontro da habitação, escritórios, cultura e áreas verdes pode ser visto como um novo paradigma na construção dos próximos empreendimentos imobiliários?

 

A pandemia veio mexer com a forma como as pessoas viviam e idealizavam quer os espaços de escritórios, quer os espaços habitação. Por isso, hoje percebemos que existe necessidade de encontrar um equilíbrio entre aquilo que ambos nos proporcionam. Assim, atualmente nos escritórios procuramos encontrar locais de conforto e bem-estar, áreas onde se possam fazer tranquilamente refeições, com zonas de lazer, por exemplo, enquanto em casa valorizamos a existência de um refúgio onde possamos tranquilamente trabalhar e desenvolver as nossas funções.  A pandemia fez-nos rever conceitos que estavam instituídos sobre o uso de cada um destes lugares no nosso dia-a-dia. Além da habitação e dos escritórios, a pandemia levou também a rever/repensar o setor comercial. Neste aspeto, pensamos já as lojas do futuro, pois hoje temos uma explosão do comércio eletrónico que mudou o paradigma de aquisição de bens, por exemplo.

A tudo isto e, independentemente daquilo que vier a ser o futuro destes segmentos, a cultura e as áreas verdes terão de fazer parte da equação. Este tema reveste-se de uma grande complexidade, pois coloca em causa a forma como nós, promotores imobiliários, pensamos os projetos. Por outras palavras, antes o pensamento focava-se na maximização do lucro, mas hoje procura-se um maior equilíbrio entre rentabilidade e o conforto daqueles que irão usufruir do espaço, seja ele de trabalho ou habitacional, respeitando valores como a sustentabilidade ou eficiência energética. Consideramos que estes fatores são determinantes para valorizar o empreendimento e vender o produto, ora ao cliente final ora aos fundos, pois caso contrário não vamos conseguir entrar nesses mercados.

Ainda sobre este tema da sustentabilidade, nós próprios já tomamos a decisão de que todos os nossos projetos terão de ter uma certificação ambiental e, no futuro, todos os promotores serão incentivados a fazer o mesmo, pois o mercado vai nessa direção, os clientes vão exigir isso.

No que diz respeito aos projetos que o Castro Group tem em carteira, podemos concluir que a pandemia não trouxe alterações aos empreendimentos imobiliários em si, mas sim ao layout, nomeadamente dos escritórios. Ou seja, uma empresa que instalaria 100 pessoas em 1000m2, hoje irá precisar de cerca de 1200 a 1500m2 para conseguir desenvolver um layout adaptado às necessidades que a pandemia deixou mais evidentes, ou então os mesmos 1000m2 no caso das organizações optarem por um modelo hibrido.

 

FUSE VALLEY

Os valores ambientais, até pelas implicações nos negócios, são cada vez mais tidos em conta pelas empresas para as suas localizações. A partir do FUSE VALLEY podemos perspetivar uma tendência que começa a impactar a construção, o projeto e a obra? Vamos querer cada vez mais edifícios empresariais que inculquem estas preocupações?

 

Isto pode ter sempre duas leituras. Esta preocupação ambiental e a sustentabilidade tem custos e terá implicações nos projetos e nas empresas. É preciso, por um lado desmistificar estas implicações e, por outro, agir para que este impacto seja cada vez menor. Veja-se, por exemplo, que o plástico reciclado é mais caro que o plástico novo e isso é preciso reverter. A “cadeia” da sustentabilidade tem de ter um ajuste para que estas preocupações não tenham um resultado inverso e produzam efeitos negativos na empresa. O próprio mercado ainda está relutante no uso destas práticas porque o racional/ciclo económico não fecha.

Os custos adicionais associados aos nossos objetivos de sustentabilidade, nomeadamente a certificação LEED Gold e WELL Gold, podem ir até 10%, tendo por base uma construção tradicional. Apesar de tudo temos consciência que este custo trará benefícios económicos e ambientais num futuro próximo.

 

Uma vez li uma definição de sustentabilidade, que para mim é, até hoje, a melhor: a sustentabilidade é uma forma de estar na vida e nos negócios, de uma forma economicamente viável, ecologicamente correta, socialmente justa e culturalmente diversa. Nesta equação, onde se inclui quer o lado sociocultural, quer o lado ecológico como pilares, o “economicamente viável” ainda não é uma realidade. 

 

Todos os valores que nós queremos imprimir nos nossos empreendimentos, nomeadamente ao nível da sustentabilidade, começam no procurement, na escolha da localização, passam pelo projeto e, depois, obviamente na obra. No Grupo temos já presente estas preocupações e, inclusivamente, estamos a trabalhar com os olhos postos em técnicas de construção inovadoras que queremos associar aos nossos projetos. Acreditamos que no futuro todos os projetos serão obrigados a incluir estas premissas. Este ciclo ficará fechado quando as empresas arrendatárias ou que compram os espaços, incluírem estes valores, nomaedamente os ambientais. Assim, a partir do momento em que o cliente final tenha estas preocupações ambientais e exija a materialização das mesmas, nós promotores já não teremos outra opção senão garantir projetos mais inovadores e ecológicos.

 


Nos edifícios haverá geração de energia para autoconsumo?

 

Sim, essa será uma das nossas apostas. Mais do que gerar energia, procuramos construir um edifício eficiente que permita poupar o consumo dessa energia. Fachadas e sistemas de AVAC eficientes, coberturas verdes que permitem um maior equilíbrio da temperatura interior, bem como sistemas BMS (Building Management System) para a gestão de operações, são algumas das possibilidades.

Quanto à produção de energia, ainda estamos a estudar as melhores soluções que queremos aplicar, mas os painéis fotovoltaicos para autoconsumo individual serão uma realidade.

Há uma ambição de Net Zero para os próprios edifícios. Sabemos que pode ser muito complicado lá chegar, porque há uma grande diferença entre tender para zero e ser zero, sobretudo em termos de investimento. No entanto, da nossa parte faremos todos os possíveis para alcançar o Net Zero. Sobre este aspeto, estamos neste momento a fazer um benchmark com consultoras de renome internacional e, por isso, acreditamos que o resultado final será muito positivo.

No entanto, os passos a dar neste âmbito dependem em grande parte da regulamentação que, neste momento, é muito instável o que tem implicações na nossa própria ação, porque não sabemos até onde poderemos ir, mesmo quando queremos fazer mais.

 

Apesar de algumas dificuldades que poderemos vir a encontrar pelo caminho, existem metas da União Europeia e do Mundo para descarbonização, pelo que temos de fazer alguma coisa e, por isso, acreditamos que vamos conseguir implementar algumas soluções pioneiras.

 

 
Estaremos a deixar o condomínio e a envolver a cidade como um todo, mesclando atividades empresariais, habitação, cultura e entretenimento?

 

Sim, é verdade! Pela ligação que temos com a comunidade, pelos espaços abertos, a localização no tecido urbano, por possuirmos algumas atividades em que chamamos a própria comunidade a participar e por programarmos outras atividades dentro do empreendimento que vão além do trabalho.

No caso do FUSE VALLEY, desenhado como sabem pelo BIG, este empreendimento agrega várias componentes num só espaço – laborais, comerciais, sociais, culturais e de lazer – que, tal como outros parques empresariais que já conhecemos a nível internacional, procura suprir as necessidades do próprio empreendimento.  No entanto, a existência deste conceito, não implica que as pessoas vivam exclusivamente neste espaço. Estas podem perfeitamente trabalhar num local e viver noutro. O que se exige sim é, por exemplo, uma boa rede de transportes.

 

O FUSE VALLEY está disponível para a cidade, para a comunidade, pois aquilo que iremos desenvolver não será apenas para quem lá trabalha. Tal como o contrário: as pessoas que lá trabalham poderão usufruir da cidade.

 

 

Matosinhos, com a rede de metro, o terminal de cruzeiros e o aeroporto pode ambicionar tonar-se um destino para empresas que procurem localizações mais tranquilas e um ambiente mais trendy para as suas equipas?

 

A escolha da localização do FUSE VALLEY foi amplamente estudada e não aconteceu por acaso. Matosinhos proporciona, efetivamente, uma série de condições que promovem a atração de empresas e pessoas, mas nós também procuramos com este projeto impulsionar esta localização para outra dimensão. Contudo, podemos também dizer que o FUSE VALLEY é muito mais do que o espaço onde se localiza.

Junto ao FUSE VALLEY existem outros parques empresariais e, nós mesmos, temos outros projetos para a mesma zona. Acreditamos que Matosinhos, bem como toda a Área Metropolitana do Porto e Região Norte, pelas suas características atuais e pelas que está a desenvolver, cada vez atraia mais talento e se torne uma referência, inclusivamente no estrangeiro, para empresas que queiram instalar-se cá.

 

Não se trata apenas de uma localização tranquila e de um ambiente trendy, mas também de uma oferta inovadora, que assenta nos pilares que definimos para o projeto: sustentabilidade, bem-estar e inovação.

 

 

Voltar para o topo