De onde vem a inovação e criatividade na arquitetura?

A Arquitetura enquanto disciplina que junta a ciência e a arte, evoluiu sempre com o olhar apontado para novos imaginários criativos, em busca de criar no ser humano emoções ora familiares, que nos fazem sentir o conforto de um abrigo primário, ora de espaços que nos levam a emoções que nos surpreendem pelo inesperado.

 

Sempre foi um esforço desta disciplina, ao longo da história do homem enquanto ser social e inserido numa essência de cultura humana, criar e inovar novas espacialidades. Também na Arquitetura contemporânea este esforço é feito.

Mas onde vão os projetistas e criadores procurar as novas ideias? De ondem nascem os novos conceitos espaciais e os novos sistemas construtivos do nosso tempo que nos fazem avançar no sentido da inovação e da criatividade? Como pode um homem “Sonhar” acordado? Será a inspiração e a formação de novas ideias algo que nasce do vazio? De onde vem o Futuro?

 

Para nos levar a pensar nas respostas a estas questões, colocamos alguns desafios.

 

Desafio 1

Este é um projeto de:

    1. Ano 2000
    2. Ano 1956
    3. Ano 2020

 

Vêm alguma similaridade com a imagem abaixo? Quantos anos separam as imagens?

    1. Cerca de 10
    2. Cerca de 50
    3. Cerca de 25

 

O primeiro projeto (Figura 1 – Planta de uma habitação) trata-se um estudo de 1956 da autoria dos arquitetos ingleses Peter and Alison Smithson, e foi denominado de “The house of the future”.

O projeto foi realizado para a “Daily Mail Ideal Home Exhibition” com o objetivo, não de construir, mas de criar debate de como seria o ideal de casa num futuro a 25 anos.

Este casal de arquitetos vanguardistas já nos anos 50, projetavam casas inspiradas no conceito de abrigo, com espaços transformáveis a partir de mobília que desaparece no chão, tecnologias de futuro como telefones com colunas nos vários espaços da casa, espacialidades flexíveis e viradas para pátios interiores que lhe permitiam criar espaço exteriores privados e com forte relação de privacidade com a casa. Estes conceitos eram inovadores em 1956 e influenciaram as gerações de arquitetos que os seguiram.

 

A segunda imagem (Figura 2 – Planta de um Centro de Aprendizagem) é um centro de aprendizagem da Universidade de Lausanne na Suíça, dos Arquitetos japoneses SANAA de 2004, tendo sido inaugurado em 2010. Ou seja, 48 anos separam os dois projetos.

Com um uso muito diferente do primeiro projeto, se apenas observarmos a planta, e se nos abstrairmos da diferença de escala, conseguimos ver muitos dos princípios do projeto dos Smithson também no projeto dos SANAA.

No entanto, é enganador pensar que um é idêntico ao outro. Pelo contrário, se analisarmos ou visitarmos este centro de estudos, percebemos que a intenção é abrir todo o piso térreo ao público, levando a que os níveis de privacidade dos pátios interiores sejam totalmente o oposto da ideia da Casa do Futuro. Por outro lado, ao contrário da casa do Futuro, este também vive da sua fachada para o exterior, com grande relação visual com o campus universitário.

Mesmo assim, há princípios que os unem, e isso é claro na observação de ambas as plantas.

 

Desafio 2

Estarão os desenhos e as fotografias relacionados com o mesmo projeto?

  1. Sim
  2. Não

 

Os primeiros desenhos são de uma casa do arquiteto Austro-americano Friedrick Kiesler, datam de 1950, e ficou conhecida como “Endless House”. O projeto, completamente fora do comum, , foi pensado como um arquétipo de casa unifamiliar, que levaria à discussão de todos os temas universais associadas à habitação na sua essência.

A casa, com um conceito biomórfico, é desenhada em comparação com um corpo humano, fechado em si próprio, sem princípio e sem fim. Levanta questões metafisicas e pretende juntar num só objeto a parte espiritual e física da casa. O resultado é uma habitação orgânica cujo interior se vive como algo que surge escavado organicamente.

Mais uma vez, mesmo sendo um ensaio teórico, este estudo marcou a arquitetura e a ideia conceptual da arquitetura do futuro.

 

Já as fotografias, correspondem ao projeto da Biblioteca de Haikou na China, dos MAD Architects. Originários da China, mas com gabinetes nos EUA e na Europa, descrevem-se como um gabinete comprometido com o desenvolvimento futurista, orgânico e de design tecnologicamente avançado que se dedica a uma interpretação contemporânea da proximidade oriental com a natureza.

A proximidade conceptual com o projeto anterior é clara, quando os MAD Architects dizem procurar uma resposta espiritual e emocional nos seus projetos.

As fotografias da biblioteca de Haikou, sem livros, e sem relação de escala, faz-nos viajar por meandros de espaços cavernosos, humanizados pelo design, que nos emocionam com a forma como se iluminam e se relacionam com quem a visita, algo que poderemos imaginar a acontecer com a mesma emoção na “Endless House”.

 

Desafio 3

 

O que têm em comum as 3 imagens?

Projeto Cidade Plug-in Projeto Torre Cápsula

Projeto Urban Rigger

 

A imagem 5 (Figura 5- Cidade “Plug-in” – Archigram), corresponde ao projecto “Plug-in city” dos Archigram e remonta à década de 60.

Se analisarmos as imagens, a cidade seria constituída por edifícios que pareciam árvores, onde no “tronco”, (a que hoje nos habituamos a chamar de “Core”) se encontrava o parque de estacionamento vertical e automático e na “copa das árvores” empilhavam-se módulos de habitação montados por gruas.

A cidade seria um organismo plural, equipado e sustentável, onde toda a estrutura se interligava e vivia em consonância tecnológica, humana e cultural.

Ideias nunca vistas, numa cidade pensada para conectar e desconectar como tomadas em equipamentos eletrónicos.

Ideias que atualmente ainda se discutem, e difíceis de imaginar no seu tempo foram impulsionadas pelos arquitetos Archigram.

 

A imagem 6 (Figura 6- Torre Cápsula – Nakagin – Tóquio), corresponde à torre Nakagin do arquitecto japonês Kisho Kurokawa, construída em 1972. Esta foi a primeira torre cápsula e é um exemplo do impacto dos estudos futuristas e, muitas vezes teóricos, como os dos Archigram.

Esta torre, é composta por dois “cores” centrais onde se vão montando as cápsulas das habitações à medida das necessidades. Foi pensada para poder contemplar 140 cápsulas, e, o facto de estas não serem colocadas todas de uma vez, fez com que a imagem da torre fosse diferente ao longo da sua vida.

É um dos projetos mais icónicos japoneses e precedeu a outros que, com a sua influência, foram surgindo na paisagem japonesa e do mundo.

 

A imagem 7 (Figura 7- Urban Rigger, Copenhaga – BIG-  Imagem de Montagem) corresponde ao projeto de 2018, Urban Rigger, em Copenhaga, da autoria dos BIG.

Este projeto partiu de um primeiro protótipo projetado em 2016 que, devido ao seu sucesso e à necessidade de dar resposta às necessidades de habitação para estudantes em Copenhaga, deu origem a este segundo para a construção destes 6 conjuntos flutuantes.

O projeto consiste num conjunto de módulos habitacionais contruídos com contentores marítimos, montados numa plataforma que flutua e poderá ser posicionada onde se pretender.  Cada módulo utiliza 9 contentores colocados em “círculo”, em dois pisos, de forma a criar um espaço central para convívio.

 

 

Qualquer um dos projetos não se esgota nos pontos que aqui estão explanados, tendo sido selecionados com o intuito de nos levar a pensar na questão pela qual começamos. A inovação e a criatividade não são algo que se alcança do vazio, assentam nos pilares de conhecimento e da experiência do passado que criam bases no nosso imaginário para sonhar mais alto. O segredo para sonhar acordado talvez seja conhecer o mundo que nos rodeia, ser curioso e descobrir o passado, por muito que há partida pareça incoerente.

 

O futuro é um avanço de quem conhece as suas tradições, a sua história e o seu mundo e de quem ousa tentar.

 

 

Bibliografia

1956: House of the Future

Archdaily

Archdaily

Endeless House

Moma

Digiblast

MAD

Archello

Público

Archdaily

Archdaily

Regresando al futuro

BIG

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