A Revolução dos Cravos a 25 de abril, sobre a qual comemoramos este ano 50 anos, marcou o fim de décadas de ditadura em Portugal, sob o regime do Estado Novo, e o início de uma nova era de democracia e liberdade.
Durante o período do Estado Novo (1933-1974) a arquitetura em Portugal refletia os princípios estéticos e ideológicos do regime. Com um papel fundamental na promoção da ideologia autoritária, caracterizava-se por uma estética monumental e grandiosa e celebrava o nacionalismo, a tradição e o poder do Estado, com edifícios públicos imponentes e monumentos que glorificavam a história e os valores do regime.
Os edifícios públicos e monumentos construídos durante este período eram frequentemente projetados para serem majestosos e inspiradores, transmitindo uma sensação de autoridade, como é o caso, por exemplo, do Palácio de São Bento, sede da Assembleia da República Portuguesa.
Por outro lado, investiu também na construção de infraestruturas e projetos de grande escala como o Estádio Nacional do Jamor, onde impera uma arquitetura robusta, construído com o propósito de sediar eventos desportivos de grande importância e promover uma imagem de orgulho nacional; ou a Ponte 25 de Abril (até à revolução era chamada de Ponte Salazar), que reflete os valores e as prioridades da época, tornando-a uma representação significativa da arquitetura do Estado Novo.
Com a Revolução dos Cravos e o estabelecimento da democracia em Portugal, houve uma rutura significativa nos paradigmas sociais, políticos e culturais do país. Essa mudança, além de renomear e atribuir novos significados a muitos das obras (como é o caso da Ponte 25 de Abril), também se refletiu na arquitetura, que passou por uma transformação profunda e permitiu uma maior diversidade de expressão, com uma maior influência de tendências internacionais e através de novas formas de representar a identidade e as aspirações da sociedade portuguesa.
A arquitetura passou a refletir, assim, os valores democráticos emergentes, priorizando a participação cidadã e a inclusão social: espaços públicos foram revitalizados, novos centros culturais foram criados e edifícios históricos foram adaptados para novos usos, promovendo a diversidade e a vitalidade das cidades.
São exemplos disso:
– o Bairro da Bouça no Porto e o complexo habitacional da Quinta da Malagueira, em Évora, projetados pelo arquiteto Siza Vieira, e que constituem exemplos notáveis de habitação social. O projeto, no Porto, priorizou o envolvimento dos moradores na conceção dos espaços, promovendo uma abordagem participativa e comunitária para o design urbano;
– bairros de habitação coletiva em Lisboa, para atender à procurar por moradias acessíveis e com o objetivo de criar comunidades diversificadas e integradas, em contraste com a segregação social que era comum durante o Estado Novo;
– biblioteca Municipal de Almada, projetada por Vítor Figueiredo, é um exemplo da arquitetura moderna portuguesa da década de 70, onde a sua geometria arrojada e o uso inovador de materiais refletem o espírito de renovação que acompanhou o período pós-25 de Abril;
– construção de centros culturais regionais em várias cidades portuguesas, como é o caso do Centro Cultural de Cascais, acessíveis a todos os cidadãos e dedicados à promoção da arte, da cultura e da educação;
O 25 de Abril representou um ponto de mudança crucial na história da arquitetura portuguesa. Além de marcar uma mudança estilística, a revolução também catalisou uma transformação profunda na relação entre a arquitetura, a sociedade e a memória histórica. Na verdade, a queda do Estado Novo permitiu aos arquitetos portugueses explorar novas técnicas, materiais e formas, que conduziram a uma série de projetos inovadores e contemporâneos que desafiaram as convenções tradicionais e contribuíram para a identidade arquitetónica única no panorama internacional.
A arquitetura tornou-se, também, uma ferramenta para lembrar e refletir sobre o passado, ao mesmo tempo em que construía uma visão de futuro mais inclusiva, democrática e progressista.
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